Esse estudo foi publicado nos anais do VII Congresso Brasileiro de Fibrose Cística, realizado entre 01 e 04 de maio de 2019, em Campinas/SP, pelo Grupo de Fibrose Cística do Instituto do Coração – HCFMUSP.
A Fibrose Cística é uma doença genética, causada pela mutação do gene CFTR (cystic fibrosis transmembrane), que leva a alterações do transporte de íons sódio e cloreto. Essas alterações levam a produção de secreções e mucos espessos pelo pâncreas, intestino e pulmões. No pâncreas essas secreções obstruem os ductos intrapancreáticos, levando à insuficiência pancreática. No intestino interferem na absorção dos nutrientes. Nos pulmões o muco fica estagnado nas vias aéreas, favorecendo infecções e inflamações, e interferindo na troca gasosa, com menor entrega de oxigênio aos tecidos e órgãos.
A má absorção, associada ao processo inflamatório e infeccioso, aumenta as necessidades calóricas e proteicas, as quais não são supridas. O processo inflamatório e infeccioso também diminui o apetite, fazendo com que o paciente reduza seu consumo alimentar. Dessa maneira temos um desequilíbrio entre o gasto calórico e a ingestão alimentar, levando à desnutrição.
Esse desequilíbrio faz com que o organismo passe a utilizar o músculo para suprir a falta de energia, o que denominamos de catabolismo proteico. Assim, a quantidade de músculo fica reduzida, comprometendo sua capacidade de gerar força principalmente aos esforços, comprometendo a qualidade de vida em seus múltiplos aspectos.
O Grupo de Fibrose Cística do Instituto do Coração – HCFMUSP desenvolveu um estudo com o objetivo de verificar a associação do estado nutricional com a força muscular nos pacientes com Fibrose Cística. Participaram 51 pacientes, de ambos os gêneros e maiores de 18 anos. O estado nutricional foi avaliado pelo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e pela avaliação da composição corporal – Circunferência do Braço (CB), Prega Cutânea Triciptal (PCT) e Circunferência Muscular do Braço (CMB). A força muscular foi avaliada pela Força de Preensão Palmar no membro dominante (FPPD), utilizando-se um dinamômetro.
Os pacientes tinham idade média de 27 anos, a maioria (61%) do sexo feminino, sendo 50 (96%) com lateralidade direita. Na avaliação do IMC 72% estavam com peso adequado, 18% estavam acima do peso e 10% estavam abaixo do peso. Na avaliação da CB, 73% estavam com o estado nutricional comprometido, enquanto pela avaliação da CMB 100% estavam desnutridos. Considerando a PCT 67% possuíam uma quantidade adequada de gordura e 20% apresentavam algum grau de déficit de gordura. A força muscular estava reduzida em 75% dos indivíduos, sendo prevalente no sexo feminino (58%).
Esses dados nos mostram que, segundo o IMC, a maioria dos pacientes apresenta peso adequado, porém a avaliação da composição corporal (CB e CMB), indica desnutrição, com associação positiva com a força muscular. Também se verificou déficit de gordura nesse grupo de pacientes.
Existem poucos estudos que avaliaram o estado nutricional e a força muscular em pacientes com Fibrose Cística. Contudo, recentes publicações são concordantes ao considerar que o IMC estabelece uma relação da distribuição do peso pela estatura, não indicando a composição de massa magra e massa gorda do indivíduo; porém como é um método fácil, de baixo custo e rápido para execução, ele tem sido amplamente utilizado. No entanto, este estudo indica que, para pacientes com Fibrose Cística, o IMC não pode ser o único método para avaliação do estado nutricional. Pacientes com Fibrose Cística apresentam depleção nutricional que compromete o estado muscular verificado por outros parâmetros. Por isso, os profissionais de saúde devem estar alerta na avaliação desses pacientes.
Com isso, podemos concluir que o IMC não deve ser o único parâmetro para avaliar o estado nutricional, sendo as medidas antropométricas de CB, PCT e CMB de fundamental importância para determinação da composição corporal. A força de preensão palmar é um excelente parâmetro a ser incorporado na avaliação nutricional.
Autores: Maria Ignez Zanetti Feltrim, Anna Carolina Di Creddo Alves, Fabio Isaías Rodrigues, Gabriela Angelo Teles, Rodrigo Abensur Athanazio, Rafael Stelmach – Instituto do Coração – HCFMUSP, São Paulo, SP.
Nota importante: As informações aqui contidas tem cunho estritamente educacional. Em hipótese alguma pretendem substituir a consulta médica, a realização de exames e ou, o tratamento médico. Em caso de dúvidas fale com seu médico, ele poderá esclarecer todas as suas perguntas.
Fonte: Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística – Unidos Pela Vida – Comunicação IUPV – www.unidospelavida.org.br
Acessado em 19.01.2020.
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